Em uma sentada --- ou melhor, deitada ---, li o sinistro Réquiem de Shizuro Gō, pseudônimo de Michiko Yamaguchi. Como uma boa pisciana --- que não sou ---, viajei ao Japão de 1945 durante a Segunda Guerra Mundial e fiquei muito tocada pelo conteúdo do livro.
Infelizmente, em Réquiem, Tom Cruise não vai diminuir a dor de muitas famílias, pais, mães e crianças japonesas. O autor não nos dá a oportunidade de lembrar em momento algum de filmes emblemáticos, como O último samurai ou Memórias de uma gueixa, de Edward Zwick e Rob Marshall, respectivamente. Somos todxs absortos pelos sentimentos, pelo cansaço e pelos devaneios de Setsuko, nossa boa protagonista japonesa.
Não sei como Gō reuniu argumento para escrever o livro, vou procurar essa informação. Se ele realmente inventou as cartas, puxa... Shizuko Gō desenvolve um enredo incrível, de episódios não cronológicos e recheado de antíteses, que mesmo sem descrever a la José de Alencar os horrores da guerra imprime nx leitor/a o que exatamente foram esses tempos.
Réquiem é uma narrativa épica e epistolar, de extrema sensibilidade, ancoradas no ser humano. O livro reclama muitas inquietações em uma leitura tranquila, e aparentemente, esquecida --- ou nunca antes conhecida --- no Brasil. Uma pena. Réquiem poderia facilmente ser encaixado ao conteúdo da nona série ou mesmo do Ensino Médio. Definitivamente, seria uma leitura que desequilibraria a turma, especialmente os truculentos e beligerantes rapazes com os hormônios à flor da pele.
Setsuko, uma jovem de dezesseis anos, é uma defensora passional do esforço de guerra do Japão. Entrega-se de coração á tarefa de escrever cartas de encorajamentos aos soldados da frente de combate. Ao lado da amiga de escola, Naomi, de espírito livre e impetuoso, Setsuko divide um diário cuja linguagem reflete lealdade, fervor, ceticismo, sofrimento e esperança, num mundo ao mesmo tempo doce e amargo.
À medida que a inexorável realidade da guerra se impõe --- cruel e esmagadora sobre a vida dessas duas jovens ---, o mundo de Setsuko torna-se, de fato, "mais escuro de olhos abertos". E, após a rendição de agosto de 1945 --- a derradeira decepção ---, Setsuko se vê sozinha em um improvisado abrigo antiaéreo, onde a saudade daqueles que se foram e a consciência cada vez mais questionadora sobre a guerra içuminam seu caminho em direção à morte.
Réquiem é um apelo pungente contra o militarismo. Um relato das experiências e sofrimentos do povo japonês durante a Segunda Guerra Mundial, só comparável aos Diários de Anne Frank e de Zlata Filopovic. Shizuko Gō compõe um romance com extrema sensibilidade e lirismo, um documento de dor em busca do real sentido da guerra, cujas implicações e reflexões transcendem os limites de uma nação para atingir a consciência de toda a humanidade.
Réquiem recebeu o Prêmio Akutagawa em 1973, um ano após ter sido publicado.*
Estou muito feliz por ter lido Réquiem. O livro conferiu-me mais consciência de ser uma profunda admiradora da cultura do país da Terra do Sol Nascente, aproximando-me de seu passado, de sua cultura popular e de seu folclore. Eu recomendo fortemente a todas as pessoas que se consideram "otakus" que leiam. (:
Ficha técnica
Título: Réquiem
Título original: Rekuiemu
Autor: Shizuko Gō
Tradução: Sonia Moreira (do inglês)
Editora: Record
Páginas: 141
1bj,
*Texto retirado da contracapa do livro
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